Imagem de Karolina Grabowska por Pixabay
Para o texto de estreia neste espaço, optei por começar a explorar algumas das relações que envolvem os três temas que dão título a este artigo. Essa escolha, naturalmente, não foi fortuita: os dois primeiros (educação e tecnologia) são os temas fundamentais aos quais a Aplitech Foundation me incumbiu de tratar aqui e que, portanto, serão recorrentes em textos futuros; já o terceiro (desenvolvimento) tem sido meu objeto de estudos há, pelo menos, cinco anos.

Para além dessas justificativas, não é preciso muita ginástica para relacionar educação e tecnologia com a temática do desenvolvimento. Isso porque que esses assuntos possuem vínculos estreitos e não é difícil percebê-los.

Embora esteja longe de ser uma novidade histórica, o progresso tecnológico acelerado tal qual o conhecemos hoje tem como origem, ainda que não seja possível precisar uma data, já que se trata de um processo, em um conjunto de transformações que pode ser localizado nas de décadas de 1960 e 1970. Não é preciso nos determos muito aqui, basta dizer que as transformações ocorridas nesse período foram de tal ordem que provocaram um transição entre paradigmas tecnológicos – do metal-mecânico (que envolveu a tecnologia necessária para produzir automóveis, por exemplo) para o da microeletrônica (que permitiu a produção dos computadores e dos smartphones que utilizamos hoje, entre muitas outras coisas).

Essa verdadeira revolução tecnológica, como seria de se esperar, não causou efeitos apenas nas áreas mais diretamente envolvidas com a tecnologia e seus avanços, como algumas engenharias e a indústria da informática. Houve desdobramentos muito mais amplos e profundos nas mais diversas áreas – incluindo, sobretudo, a educação e o desenvolvimento.

Começando pelo segundo desses temas, há pelo dois tipos de desdobramento a serem considerados. O primeiro deles tem a ver com o próprio conceito de desenvolvimento. A partir de meados da década de 1970, o desenvolvimento deixa de ser visto, como o fora durante os anos 1950 e 1960, enquanto sinônimo de crescimento econômico – medido quase que exclusivamente pela expansão da renda per capta (1) . Isso não significa, é claro, que o crescimento tenha deixado de ser importante, mas apenas que o desenvolvimento passou a ser visto como um fenômeno mais amplo e complexo, cuja análise deve envolver, portanto, outros fatores além da expansão da renda.

Uma referência básica aqui é o livro Desenvolvimento como liberdade, do economista
indiano Armatya Sen, laureado com o prêmio Nobel em 1998. Nessa perspectiva, de
maneira muito resumida, o desenvolvimento tem a ver com expansão das liberdades
individuais que as pessoas valorizam e tem razão em valorizar, como chegar a vida adulta
com boas condições de saúde e um bom emprego. Isso poderia ser possível mesmo para
alguém que não tenha tido a sorte de nascer em uma família que desfrutasse de altos níveis
de renda, desde que tenha sido permitido a esse indivíduo, durante a infância e a adolescência, viver em boas condições sanitárias e acessar serviços de saúde e educação qualificados. Essa mudança na forma de conceber o desenvolvimento, como seria de se esperar, provocou modificações importantes nas formas de medi-lo: atualmente, seu principal indicador internacional, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), contempla, entre outras coisas, dados sobre expectativa de vida e os anos de estudos das pessoas.

(1) Calculada dividindo-se a renda nacional (Produto Interno Bruto – PIB) pelo número total de habitantes do
país. Este é um indicador internacional utilizada para comparar os níveis de renda disponíveis em diferentes
países.

Ainda na seara do desenvolvimento, a revolução tecnológica referida a cima
provocou outro desdobramento a ser considerado e ele diz respeito à forma como as
pessoas trabalham e geram renda. O processo acelerado de inovação tecnológica no qual
vivemos, sobretudo em áreas como microeletrônica, informática e telecomunicações, ao
afetarem a forma pela qual produtos e serviços são produzidos e comercializados, também
afetam a maneira como trabalhamos para produzi-los e comercializá-los. Esse conjunto de
transformações, chamado pelos economistas de reestruturação produtiva, tem impacto
direto nos tipos de conhecimentos, habilidades e competências que as pessoas precisam
adquirir para conseguirem trabalho.

O que nos conduz ao último tema a ser tratado aqui: a educação. Considerando que
os tipos e os níveis de conhecimentos, habilidades e competências que as pessoas adquirem
influencia diretamente nos tipos de trabalhos que elas poderão executar, como dito acima, é
forçoso concluir que isso também interfere nos níveis de renda dos quais essas pessoas
poderão usufruir ao longo da vida. Isso porque profissionais que atuam em atividades mais
estreitamente relacionadas com os avanço tecnológicos referidos acima (engenheiros,
programadores e prestadores de serviços altamente especializados) são melhor
remunerados do que aqueles que atuam em atividades mais tradicionais e que exigem
menos recursos técnicos (motoristas, operários não especializados, trabalhadores braçais,
etc.).

Adicione-se a isso o fato de que conhecimentos, habilidades e competências são
adquiridos através do estudo e da experiência, e a educação torna-se, nesse contexto, uma
questão incontornável. Dito de outro modo, sem educação e treinamento adequados, no
contexto de avanço tecnológico constante no qual vivemos, as pessoas não tem as
condições mínimas necessárias para acompanhar as transformações no mercado de
trabalho e serem capazes de gerar renda nos níveis por elas desejados.

Tudo isso torna iniciativas como a da Aplitech Foundation, de oferecer cursos
gratuitos para o desenvolvimento de uma habilidade cada vez mais valorizada na atualidade
– saber programar – ainda mais importantes.

Colunista da Aplitech Foundation
Wellington Nunes
Cientista político. Atualmente participa de um programa de pós-doutoramento na Universidade Federal do Paraná  (UFPR), onde atua como professor e pesquisador.

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