A situação de emergência sanitária e econômica desencadeada pela covid-19, doença provocada por um novo coronavírus identificado como Sars-Cov-2, trouxe consigo enormes desafios em diversas áreas, além de um agravante que não pode ser desconsiderado: os referidos desafios precisam ser enfrentados simultaneamente, sob pena de termos de arcar com faturas demasiadamente elevadas em um futuro próximo.

Nesse sentido, enquanto a comunidade científica se dedica à busca incessante por instrumentos capazes de controlar tanto a doença (remédios) quanto o vírus (vacinas), governos e autoridades públicas de boa parte dos países do mundo trabalham em duas frentes simultâneas: por um lado, implementam e monitoram medidas variadas de distanciamento social, que representam (até o momento) a única alternativa capaz de evitar o colapso dos sistemas públicos e privados de saúde; por outro, utilizam instrumentos variados para atenuar os efeitos potencialmente catastróficos que essas medidas podem produzir na economia.

Essa situação de emergência global, no entanto, não será debelada apenas pelas ações protagonizadas pela comunidade científica e pelos poderes públicos. Isso porque a gravidade do momento que estamos vivendo é de tal ordem que exige que esses esforços se somem a outros (muitos) oriundos da sociedade civil. Em outros termos, as contribuições de indivíduos, empresas, associações, fundações e organizações não governamentais serão imprescindíveis para que consigamos superar os numerosos desafios que a atual conjuntura nos impõe.

Aproveitando a oportunidade da celebração do dia da educação (28/04), vou me referir aqui a alguns dos desafios da área.

Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que a necessidade de ações concertadas na área da educação antecede a situação emergencial desencadeada pela covid-19. Em outro texto neste espaço, argumentei que o processo de aceleração do desenvolvimento tecnológico que assistimos nas últimas décadas, por si só, já confere grandes desafios à área educacional. Isso porque esse processo, conhecido como reestruturação produtiva, tem impacto direto nos tipos de conhecimentos, habilidades e competências que as pessoas precisam adquirir para, por exemplo, conseguirem trabalho.

Adicione-se a isso o fato de que conhecimentos, habilidades e competências são adquiridos através do estudo e da experiência, e a educação torna-se, nesse contexto, uma questão incontornável. Ou seja, sem educação e treinamento adequados, as pessoas não tem as condições mínimas necessárias para acompanhar as transformações no mercado de trabalho e serem capazes de gerar renda nos níveis por elas desejados.

No Brasil, como se sabe, embora avanços significativos possam ser observados durante as últimas décadas, em termos de difusão do acesso à educação, continuamos incapazes de superar as claras deficiências qualitativas do nosso sistema de ensino, como atestam quaisquer rankings comparativos com a realidade internacional (1)

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(1)O mais conhecido deles é o PISA, da OCDE. Disponível em: https://www.oecd.org/pisa/.

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Esse cenário, naturalmente, nada tem a ver com o contexto de emergência sanitária e econômica que ora enfrentamos, mas é, seguramente, agravado por ele. Para perceber isso, basta ter em conta que o ensino presencial no país (e também ao redor do mundo) está suspenso por tempo indeterminado, já que não sabemos quando será seguro reconduzir estudantes, professores e demais funcionários às escolas e às universidades.

Por causa disso, tornou-se imperativo que nós, enquanto sociedade, nos mobilizemos para lidar com essa situação – já que a educação, direta ou indiretamente, nos atinge a todos (estudantes, pais, professores, empresários, governos, cidadãos).

Nesse sentido, um caminho incontornável parece ser o da utilização das ferramentas tecnológicas de comunicação e de armazenamento e transmissão de informações, já há muito disponíveis – seja na vertente ensino à distância propriamente dita, seja na modalidade presencial mediada por tecnologia.

Afirmar que há grandes obstáculos para a utilização desse tipo de ferramenta em um país tão grande e desigual quanto o nosso é mera trivialidade. O que precisamos é reunir recursos (dinheiro, conhecimentos, habilidades, expertises, etc.) para superar esses empecilhos. Também parece desnecessário dizer que as soluções deverão ser em boa medida customizadas, isto é, adaptadas às especificidades locais e regionais.

Outra obviedade precisa, infelizmente, ser destacada: não poderemos contar, para a superação desses e de outros desafios que fazem parte da realidade brasileira, com os imensos benefícios que a tecnologia 5G poderia nos proporcionar. Dito de maneira direta: a conta do atraso injustificável na viabilização (técnica, jurídica e política) desse enorme avanço tecnológico no país chegou mais cedo – foi antecipada pela pandemia.

Como se percebe, trata-se de um cenário bastante adverso também na área da educação. Não obstante, parece ser oportuno lembrar o artigo 205 da Constituição Federal de 1988, no qual se lê: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Convém notar que o constituinte originário, além de enxergar a educação como um “dever do Estado e da família”, também destaca a necessidade de que a mesma fosse “incentivada com a colaboração da sociedade”. Essa ação concertada parece ainda mais necessária no momento adverso que estamos vivendo.

Nesse sentido, “para não dizer que não falei das flores”, temos assistido iniciativas muito interessantes e bem-vindas na área da educação. Entre elas, destaco, a propósito da celebração do dia da educação, uma iniciativa que envolve, entre outras organizações e colaboradores, a Fundação Roberto Marinho, o Canal Futura e a Aplitech Foundation (saiba mais aqui) (2).

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2 Disponível em: http://diadaeducacao.org/

Colunista da Aplitech Foundation

Wellington Nunes – Cientista político. Atualmente participa de um programa de pós-doutoramento na Universidade Federal do Paraná  (UFPR), onde atua como professor e pesquisador.

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