Capacidade, esforço, inteligência e competência, normalmente, resultam em boa qualidade de vida, grandes carreiras e melhores salários. Trajetórias brilhantes que se explicam pela chamada meritocracia. Porém, o Brasil se encontra entre os países mais desiguais do mundo, como pensar apenas no mérito quando não há igualdade de oportunidade para todos?

Vamos para uma situação fictícia: imagine um campeonato de corrida com apenas dois competidores, sendo que o competidor 1 obteve o benefício de dar a largada após 100m de percurso. O competidor 2, continuou participando do campeonato, porém ficou no ponto de largada habitual. Ao terminar o campeonato, o competidor 1 ganhou a corrida e encarou isso como mérito seu. Em entrevista, ele disse que treinou bastante para chegar lá, a vida toda, diria. A derrota do competidor 2, por sua vez, foi atribuída à falta de um esforço maior, que não lhe garantiu o benefício de largada após 100m, esse que lhe daria maiores chances de ganhar a competição. Como reflexão, isso seria justo? Eles partiram de um mesmo ponto?

As desigualdades de oportunidades acontecem dessa maneira. O sucesso é encarado como mérito, no entanto, quanto mais oportunidades, desde a educação de base, maior a possibilidade de uma boa qualidade de vida. O indivíduo que se abstém de oportunidades, normalmente, fica aquém dessa “elite”. Dessa forma, o conceito de meritocracia numa sociedade desigual como a nossa é inválido. Não há iguais condições sociais e econômicas para todo e qualquer cidadão brasileiro, portanto, isso só servirá para reforçar a disparidade existente, onde os grupos privilegiados conseguem avançar progressivamente em melhores carreiras, salários, sucesso, etc.

Quando pensamos em falta de oportunidade, precisamos falar sobre a educação, pois essa é a maior ferramenta para que nosso desenvolvimento aconteça. Nesse ponto, percebemos que muitas pessoas não conseguem ter a mínima chance de estudar ou precisam optar desde cedo entre estudo ou trabalho.

É preciso que haja incentivos governamentais efetivamente justos para algumas classes. O problema é que, por exemplo, temos as cotas étnico-raciais que hoje são fornecidas obrigatoriamente nas universidades, ainda assim, há quem não consiga enxergar que isso se faz realmente necessário. Numa dessas discussões, Sidney Chalhoub, historiador e professor da Unicamp e Harvard, defende a presença das cotas em entrevista: “Não se pode ter somente uma determinada raça ou classe social na universidade. Já que o ingresso não pode ser da maneira universal, que a sociedade esteja presente, então, por meio da representatividade”. O historiador ainda revela que “A meritocracia é um mito que serve à reprodução eterna das desigualdades sociais e raciais”, o que complementa as reflexões feitas nessa coluna.

Sabemos que ninguém está ileso de receber vários “não” pela vida. Mas, para alguns grupos, estes “não” são mais frequentes. As oportunidades são comprometidas devido à desigualdade social, além da racial. Estamos muito distantes de atingir o conceito de igualdade no país, por isso, a ideia da meritocracia não deve existir enquanto todos não estiverem em um mesmo patamar.

Fonte: UNICAMP

Colunista da Aplitech Foundation

Lidianne Farias – Mestra em Engenharia Civil e Ambiental, Especialista em Planejamento, Gestão e Controle de Obras, Engenheira Civil.”A mente que se abre a uma nova ideia, jamais voltará ao seu tamanho original”.

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