O que os números mais recentes sobre a indústria brasileira, divulgados no último dia 4 de fevereiro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dizem sobre as perspectivas para o desenvolvimento nacional? Tentar responder a essa questão exige que se considere, pelo menos, duas perspectivas analíticas: uma mais conjuntural e outra mais estrutural.
De um ponto de vista mais informado pela conjuntura, é preciso ter em conta que a queda de 1,1% na produção industrial brasileira no ano de 2019 está longe de ser um dado surpreendente – ainda que esse indicador tenha avançado 2,5% e 1% em 2017 e em 2018, respectivamente.
O dado não surpreende porque sabia-se que a indústria extrativa seria fortemente impactada pelo rompimento da Barragem de Brumadinho, ocorrido no dia 25 de janeiro de 2019, afetando a produção industrial agregada.
E foi justamente o que ocorreu: sem o tombo do segmento extrativo (-9,7%), a produção industrial agregada poderia ter tido resultado positivo em 2019 – algo que pode ocorrer em 2020, com a recuperação desse segmento empurrando o agregado industrial para cima. O que, sem dúvida, é uma perspectiva positiva para a retomada da atividade econômica.
De um ponto de vista mais estrutural, no entanto, as perspectivas são bem mais obscuras. Isso porque, ainda que o cenário descrito acima se concretize e a produção industrial volte a crescer, capitaneada por seu segmento extrativo, não deve haver avanços significativos no setor de transformação (produtos manufaturados) no curto prazo.
Isso porque a produção da indústria de transformação para o ano de 2019, como notou Armando Castelar do Ibre/FGV, está no mesmo patamar de 16 anos atrás (2003) e 16% abaixo do nível observado no período pré-recessão (2014-2016) 1
Aqui também há fatores conjunturais e estruturais atuando, como também observou Castelar. No primeiro caso, são dois os fatores mais evidentes: choques externos adversos, como desdobramentos da guerra comercial entre EUA e China; e a lentidão da retomada da atividade econômica, que se arrasta desde 2017.
Quanto aos fatores estruturais, destaca-se a baixa competividade que os produtos manufaturados no Brasil tem no mercado internacional (ou mesmo no mercado nacional, quando estão sujeitos à concorrência externa livre). Competitividade, como argumentado em outro texto, é uma função da produtividade do trabalho que, por sua vez, depende de incrementos progressivos em três tipos de capital: físico, humano e financeiro 2 .
Portanto, há duas conclusões gerais aqui. Primeira: para que a produção industrial seja menos sensível às oscilações do segmento extrativo da indústria nacional, é preciso que o segmento de transformação volte a crescer de maneira consistente. Segunda conclusão: isso não vai ocorrer sem ganhos progressivos de produtividade.
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1 – Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/02/industria-e-ducha-de-agua-fria-para- quem-espera-retomada-mais-forte.shtml . Acesso: 05/02/2020.
2 – https://www.aplitechfoundation.cf/2020/01/produtividade-e-desenvolvimento.html
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Trocando em miúdos: ainda que o sururu ente Estados Unidos e China não atrapalhe e que a economia nacional volte a crescer à taxa anual superior a 2% (combinação nem tão provável assim), sem ganhos progressivos de produtividade no segmento de transformação, a produção industrial agregada seguirá sujeita aos solavancos de seu segmento extrativo.
Colunista da Aplitech Foundation
Wellington Nunes
Cientista político. Atualmente participa de um programa de pós-doutoramento na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde atua como professor e pesquisador.